Loja de conveniência

Para David Sylvian e Mark Hollis

Fazer compras à noite, muito tarde,
e ter a certeza de que não há denotação
desta dor, deste gesto, desta
queda da luz fluorescente
sobre o vidro da biografia.

Nas margens da história,
um copo partido, uma fractura no espelho,
um rio que corre ao contrário,
uma recusa em dizer, um contágio.

Nas margens da história,
a intransparente água, as flores
apodrecidas, os pensamentos turvando-se.

Certo das assimetrias da memória,
da sua implacável ilógica palavra,
a que se debruça sobre nós
e nos convida ao desamparo
e ao orgulho, recolho o saco de papel
e receio a imoderada denotação.

Louís Quintais (Luso – Angola, 1968), da Ecolalia (Lietocolle-Pordenonelegge, 2018)

Minimarket

Para David Sylvian e Mark Hollis

Fare la spesa a notte fonda,
ed essere consapevole che non vi è denotazione
di questo dolore, di questo gesto, di questa
caduta di luce fluorescente
sul vetro della biografia.

Ai margini della storia,
un bicchiere rotto, una crepa nello specchio,
un fiume che scorre al rovescio,
un rifiuto nel dire, un contagio.

Ai margini della storia,
la non trasparente acqua, i fiori
marci, i pensieri che si intorbidiscono.

Certo delle asimmetrie della memoria,
della sua implacabile illogica parola,
quella che si china su di noi
e ci invita all’abbandono
e all’orgoglio, raccolgo la busta di carta
e temo l’immoderata denotazione.